sábado, 29 de agosto de 2009



Qual a importância do planejamento para a propaganda?
Rapha Barreto
Diretor de Planejamento da Agência DPZ

"Pergunta muito aberta. O que é bom. Dá vazão para uma série de hipóteses, achismos, chutes, teorias co-relacionadas, opiniões cruzadas e, porque não, a soma da opinião dos outros para se obter uma própria.

Aliás, isso é planejamento. Também.

É possível criar do absoluto caos? A resposta é sim. Claro. Mas pense que o caos também tem seus ingredientes. Caso contrário, ele seria o nada. Criar do absoluto nada não é possível. Claro.

Pois muito bem. Criar hipóteses dentro dos ingredientes do caos é, em alguma escala, dar ordem ao caos. É a humildade de querer entendê-lo. Você arruma os ingredientes a ponto de compreendê-los em partes e questioná-los em parte. Questionar cada um dos pontos provoca o entendimento desses pontos. Eles começam a ficar mais claros. E é instigante quando você percebe que é possível descobrir mais uma coisa em uma coisa. Duas, três, dezessete coisas em uma coisa. Você desdobra os ingredientes do caos e descobre, enfim, que existe ali, no caos, uma ordem, uma programação, um comportamento ou, pelo menos, uma tendência.

Uma pessoa, por exemplo. Ela é uma edificação complexa. Alguns diriam que além das camadas físicas, há espirituais. Mas fiquemos só com as físicas, por enquanto. Ela é composta de células das mais diversas porções, motivos e reinos. É muito legal, inclusive, olhar os pontos onde existem as transições desses reinos. Já ficaram olhando para a palma da sua mão e, devagar, viraram para o outro lado? Não é legal observar a transição de domínio? As nuances? Como a textura muda levemente. As funções e comportamentos?

Quando se olha para o indíviduo como um todo se percebe um comportamento. Ele, e todas as suas nuances, biológicas e psicológicas, estão lá. Você, você que está lendo esse texto não consegue saber exatamente o porque das particularidades das suas nuances - principalmente as psicológicas. Imagine agora saber a do outro, a do cara ao seu lado.

Enfim, se a soma de cada célula forma um corpo com inúmeras nuances e particularidades, se olho de cima e vejo um grupo de pessoas que vivem sob mais ou menos as mesmas condições e são impactadas por mais ou menos as mesmas influências, posso compreender que elas podem ser interpretadas, em alguma escala, como um corpo - com suas inúmeras nuances e particularidades.

Se assim desejar vender para esse corpo alguma coisa, é preciso olhar a palma da sua mão e virá-la, devagar, e olhar o outro lado dessa mão. E seguir pelo braço até ter olhado tudo, inclusive seus pintos e vaginas, sem vergonha, sem pudor. Só assim você vai saber a verdade, ou melhor, as verdades desse corpo social. As nuas e cruas, inclusive.

Depois, além desse corpo, há o mundo que ele vive. O ar que respira, as coisas que ele vê, as outras coisas que entram e saem desse corpo social. Que querem ser compradas por ele. Estão em constante agitação e atrito, dentro de um caos só deles. Um caos que reside de alguma forma em uma ordem. E você precisa entender isso também.

Isso dá um trabalho danado porque muito já foi visto, tentado, depurado. Você precisa encontrar um feromônio novo, alguma coisa que o toque a ponto de que queira a sua coisa em detrimento das outras coisas parecidas com a sua.

Faz sentido isso? Claro que faz, é um raciocínio. Como outro qualquer que você vai ter que fazer quando passar por esse processo. O raciocínio é a ordem, ou a ordem que quer dar, para o caos que está por aí. Ele é lógico. E é muito difícil de fazer. A criatividade de um planejador reside aí. Em trocar as notas da música e ela ficar ainda melhor. E única, de preferência. Essa nova melodia não é boba, não é rasa, não é esquisofrênica, resiste ao argumento do outro e, mais importante, é encantadora. Você gosta. As outras pessoas gostam.

Ah, evidente. Ser planejador é entender também que esse raciocínio não será apreciado por todos. Do total que ler esse texto, alguns não gostarão, outros gostarão, e outros vão deixá-lo a ponto de não chegar aqui, nesse ponto. E aí, se eu tivesse que vender um produto para o total desse amostra, precisaria entender onde esses três blocos se encontram e, mais relevante, onde reside alguma coisa dentro de todos eles que eu possa provocar a ponto de iniciar um diálogo com ele e, enfim, vender meu produto. Pode ser o desejo de ser mais bonito, de ser mais escuro ou claro, a castração de um motor 1.0, a possível vergonha futura de outro sentir algum cheiro ruim na sua casa, de mostrar mais ou menos dinheiro e assim por diante. E depois, ir cada vez mais na essência do porque as pessoas são como são. Você se surpreenderia.

Na dúvida, leve no peito a frase do Sócrates: Sei que nada sei. Por não saber, você vai perguntar, perguntar e perguntar. Quer uma frase mais cool? Stay hungry, stay foolish.

Difícil? Sim. Mas por toda a viagem, por todo o detalhe explorado, você agora sabe mais, seu caos agora é rico, vasto e sua criatividade vai fazer o resto para encontrar algo que ressoe com os corpos que tem por aí. Todos com seus devidos pintos e vaginas."



PS -Esqueci de responder de maneira enfática e direta. Vamos lá: planejamento é importante para a propaganda porque, com alguma sorte, ela vai descobrir um novo e melhor caminho para se seguir.

Posted by: Alice Midori Takano, CSOS5A

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